Com o passar do tempo foram encerrando, um a um, os estúdios fotográficos de Lisboa. O que outrora haveria sido um lugar onde famílias se encontravam para registar um aniversário, os disfarces de Carnaval, um casamento, a fotografia para o primeiro emprego, passou a ser agora um café, uma loja de souvenirs, uma boutique.

Já as fotografias passaram a existir dentro dos ecrãs dos nossos telemóveis ou no disco rígido do computador. Simultaneamente, também foram desaparecendo das paredes das nossas casas, dos álbuns de família, das nossas carteiras.

A acessibilidade ao equipamento fotográfico generalizou a fotografia, mas retirou-lhe a sua “aura” de solenidade, limitou-nos o direito de celebrar este ritual da memória no qual, com dedicação, registamos aquele momento que queremos recordar, partilhando-o com quem amamos.

O “Estúdio do Bairro” nasce enquanto movimento contrário à passagem do tempo. É um estúdio fotográfico aberto no Largo do Intendente para as comunidades de Lisboa, convidando-as a fazer um retrato.

Apresenta-se agora aqui, numa retrospectiva de seis meses, inserido na residência anual de Nicole Sánchez no Largo Residências. Começa-se, assim, a perceber a construção do retrato do bairro, objectivo ao qual a artista se propôs no lançamento deste projecto.

O “Estúdio do Bairro” tornou-se um ponto de referência durante as suas sessões abertas, bem como recriou o espírito da ida ao ‘fotógrafo’, outrora um hábito comum. Nesta apresentação, mostra-se o trabalho das cerca de 10 sessões realizadas entre Dezembro 2021, e Abril 2022, onde a preocupação latente era apenas a do retrato, não havendo informação requisitada sobre cada pessoa. Desta forma, as fotografias apresentam-se numa forma cuja ligação entre elas pode ser estabelecida de forma invisível. E a questão sobre quão ligados estamos a pessoas que desconhecemos, foi a pergunta que mais surgiu durante toda esta construção.

O trabalho de Nicole Sánchez assenta na necessidade e vontade, quase por impulso, de trabalhar a sua arte com a comunidade e para a comunidade. É frequente sentir como se questiona no seu papel de artista e fotógrafa, tornando todas as suas intervenções inclusivas. O “Estúdio do Bairro” inseriu-se, assim, de forma natural, no bairro do Intendente, promovendo a livre interpretação da relação entre cada pessoa.

O projecto tornou-se rapidamente um ponto de contacto entre a artista e a comunidade. É um ponto de encontro muito solicitado e querido pelos vizinhos. Durante estas sessões, cerca de 200 pessoas passaram pelo “Estúdio do Bairro” para fazer o seu retrato. Está assim aberta a porta para a construção deste ‘retrato social’, da imagem de um grupo através da sua individualidade. E afinal, quem somos nós senão uma pequena parte de um todo?

Ficha técnica:

Entidade promotora : Largo Residências

Autoria : Nicole Campos Sánchez

Video : Gonçalo Nuno de Souza – SOUZA FILMES

Fotografia de documentação do projecto : Inês Gil Silva

Fotografia da artista : João Tuna

Agradecimentos: Lígia Fernandes, Pedro Jardim, Inês Gil Silva, Joana Leal, TRIPÉ, Marco Teixeira e um especial agradecimento à Matilde Fernandes.


Over time, Lisbon’s photo studios were closed, one by one. What once would have been a place where families met to record photographically a birthday, the Carnival costumes, a wedding, the photo for the first job, has now become a café, a souvenir shop, a boutique.

 But photos have come to exist on the screens of our mobile phones or in the computer’s hard drive. At the same time, they have also disappeared from the walls of our homes, from family albums, from our wallets.

Accessibility to photo equipment popularised photography, but removed its ‘aura’ of solemnity, limited us the right to celebrate this memory ritual in which, with dedication, we record that moment that we want to remember, sharing it with those we love.

‘Estúdio do Bairro’ (Neighbourhood Studio) is born as a movement against the passing of time. It is a photo studio open in Largo do Intendente to Lisbon’s communities, inviting them to make a portrait.

It is now presented here, in a six-month retrospective, inserted in Nicole Sánchez’s annual residency at Largo Residências. This way, one begins to understand the construction of the neighbourhood portrait, an objective to which the artist set out at the launch of this project.

‘Estúdio do Bairro’ became a point of reference during its open sessions, as well as recreating the spirit of going to the ‘photographer’, once a common habit. In this presentation, we show the work of about 10 sessions held between December 2021and April 2022, where the latent concern was only that of the portrait, with no information required about each person. In this manner, the photos are presented in a way whose connection between them can be established in an invisible way. And the issue about how connected we are to people we don’t know was the question that came up the most during all this construction.

Nicole Sánchez’ work is based on need and will, almost by impulse, to work her art with the community and for the community. One frequently feels how she questions herself in the role of a photographer and artist, rendering inclusive all of her interventions. ‘Estúdio do Bairro’ was therefore naturally inserted in the Intendente neighbourhood, promoting the free interpretation of

 the relationship between each person.

The project quickly became a point of contact between the artist and the community. It is a fairly demanded meeting place and loved by the neighbours. During these sessions, about 200 people passed by ‘Estúdio do Bairro’ to make their portrait. The door is open to the construction of this ‘social portrait’, of the image of a group through its individuality. And after all, who are we but a small part of a whole?

Technical Information:

Promoting entity: Largo Residências

Author: Nicole Campos Sánchez

Video Gonçalo Nuno de Souza – SOUZA FILMES

Project documentation photography: Inês Gil Silva

Artist’s photography: João Tuna

Acknowledgements: Lígia Fernandes, Pedro Jardim, Inês Gil Silva, Joana Leal, TRIPÉ, Marco Teixeira and a special thanks to Matilde Fernandes.